Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/167

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“Tinha, tinha!—­retrucou o prior:—­Queria só ver se tu concordavas comigo: mas sacas-te com uma exquisitice de fazer arripiar. Não temos feito nada, meu Bartholomeu: não temos feito nada!”

E dizendo e fazendo, o clerigo erguia-se como para saír.

“Pois diga vossenhoria—­acudiu o moleiro ainda atrapalhado com o revertere:—­e enforcado morra eu se...”

“Não praguejes, homem! Ahi vae! Quem ha-de apanhar o dote é a Bernardina d’ao pé do rio...”

A historia das saccas era espinha que ainda lhe estava atravessada na garganta: ouvindo tal nome, o velho não pôde conter-se:

“Quem? A cara de fuinha da filha de Perpetua Rosa? O padre prior está brincando. Olha as lesmas! Umas desmaseladas, e caloteiras! Isso, nas unhas da mãe, era fogo viste, linguiça. Terçans me matem...”

“Espera, homem, espera! Não é isso o que se diz na aldeia. Tu tens osga ás pobres mulheres, e cega-te a paixão. Desmaseladas?! Basta olhar para ellas; como andam limpas na sua miseria. Caloteiras? coitadínhas! É porque não têm com que pagar ao Agostinho da tenda? Pagar-lhe-hão agora. Quinhentos mil