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Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/168

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réis ainda ficam livres, e Bernardina ha-de com elles achar um bom casamento.”

Emquanto o prior falava, uma idéa bem-aventurada illuminára subitamente a alma do moleiro. As suas tres saccas podiam não estar perdidas de todo; podiam voltar melhoradas ao moinho. Sentiu a colera desvanecer-se-lhe, como a nuvem negra que varre a brisa do norte.

“É verdade que a gente ás vezes tem cá as suas birras:—­disse elle com certo ar que queria ser fino e saía parvo.—­Cega-se com as pessoas! Vossenhoria bem sabe o que faz: dê o dote a quem quizer, que diante de mim ninguem ha-de tugir nem mugir contra vossenhoria.”

“Pois bem!—­proseguiu o prior.—­Esta lebre está corrida. Resta achar um noivo para Bernardina. Isso é bico d’obra que requer escolha e siso. Pensa no caso, Bartholomeu! Vamos a vêr se acertas melhor desta vez. Agora outra cousa. Tu és capaz: tens sabido guardar o teu dinheiro; saberás guardar o alheio. Eu para isso não presto: sou um mãos-rotas. Aqui te deixo setenta louras, que a seu tempo se hão-de entregar a quem tocarem. Incumbes-te d’isto?”

“Vossenhoria manda:”—­respondeu o moleiro,