Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/141

Wikisource, a biblioteca livre

vivaz como a natureza circunstante, havia acordado, ora trêmulo e tímido, ora afirmando sua pujança nos impulsos mal refreados. Longe ia a imagem de Marianinha, peregrina na vastidão daquele mundo, apropriada somente à vida do lar, onde não se querem comoções vertiginosas, indomáveis, mas mornas como a família, despertadas pela ternura, não pela paixão. Quem Lourenço sentia junto dele era a mulher ardente, de vigorosas formas, de inebriante contato, mulher que o acompanharia ao coração dos sertões mais adustos, às margens dos rios mais arrebatados, aos braços dos vales mais ingratos, enfim era a mulher que exigia a vida do deserto com todas as suas impressões mordentes, agudas e atrozes.

Mas - a fisiologia humana é um enigma indecifrável - Bernardina, ordinariamente desembaraçada, guardou silêncio. A sua mão esquerda tremia no corpo do cavaleiro. Este, paciente, pegou-lhe da outra mão, e levou-a aos lábios. Em vez de quente, estava resfriada, não pela temperatura, senão por sobressalto invencível.

— Diga, Bernardina - instou ele. Você sabe que seus olhos sempre me renderam, que sua danças e cantigas sempre me cativaram.

E porque, ainda com isto, a rapariga continuou tenazmente calada, Lourenço acrescentou:

— Ora, deixe-se de vergonhas. Ninguém nos vê,