Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/161

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— Meu Deus! Meu Deus! Quem havia de dizer que seria este o seu destino? Está acabado. Somente a misericórdia divina o poderá salvar.

Com o auxílio do tangedor e do negro, conduziu o enfermo para um lugar mais alto, aonde as águas do rio não tinham podido chegar, e em panos que trazia na maleta presa à garupa, tomou-lhe os golpes, e enxugou-lhe o sangue.

Ali esteve com ele enquanto o negro e o tangedor improvisavam uma balsa para transportá-los à outra margem. Enfim, antes do meio dia, Lourenço ocupava o melhor aposento da casa da fazenda.

Por muitas horas esteve sem fala. João Mateus já sentia desampará-lo a última esperança de salvar aquela vida, quando Lourenço, depois de um ai que lhe arrancara a dor dos ferimentos perguntou:

— Bernardina? Onde está Bernardina?

— Estou aqui, Lourenço.

A rapariga estava, de fato, à cabeceira do moribundo. Cipriano pudera salvá-la, metendo-se pelo mato, por fugir aos bandidos, no momento em que estes falavam com João Mateus, tomando depois atalhos que lhe eram usuais, descendo à margem do rio cerca de um quarto de légua abaixo do lugar do conflito, atravessando as águas, e enfim levando-a à fazenda onde presumia já estar o ferido.

Junto de Bernardina, João Mateus tinha as vistas presas em Lourenço. Um dos ferimentos era profundo