Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/182

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— Havemos de ver - disse um dos da multidão - havemos de ver até quando durará este amparo reles.

— Há de durar até quando vosmecês quiserem - respondeu, sem titubear, a cabocla. Eu sei que nada do que é meu me pertence contra a vontade de vosmecês.

— Marcelina, por piedade, cala-te - disse D. Damiana, receando-se de roubarem aquele mesmo cantinho obscuro onde podia repousar a cabeça, depois de haver chorado livremente os seus males.

— Pois, já que têm onde se metam, ponham-se no andar da estrada sem demora. Tudo o que está aqui pertence a el-rei, tirado antes o que deve caber aos credores do nobre senhor falecido.

Era, em termos irônicos, a intimação para que saíssem as duas mulheres.

D. Damiana ergue-se imediatamente. As roupas negras, realçando-lhe a palidez do rosto, davam-lhe aspecto senhoril, em que ainda falava a altivez de outrora.

Relanceou os olhos por sobre os móveis que decoravam a sala, e dos quais ia apartar-se para sempre.

Dando as suas vistas, no rápido percurso, com o oratório, pousaram aí um momento, e dos lábios lhe saíram, sem que as vistas se afastassem estas palavras:

— E as minhas imagens também me são arrancadas das mãos?