Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/188

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Este gesto atemorizou a viúva, que só então pareceu medir o alcance de sua temeridade.

Faltou-lhe inteiramente a coragem para sustentar o seu papel. Quis correr, mas entrara tanto pelo terreiro que quem quando com os olhos buscou a porta da casa, viu entre esta e ela, o desconhecido, que se adiantara e se aproximava cada vez mais, fazendo menção de a querer cingir com os braços.

— Não corra, não corra de mim, sinhá D. Damiana.

Foi tarde. Temor pânico tomara a gentil senhora, e após o temor viera o delíquio. Se o desconhecido a não amparasse, se a não sustentasse contra o peito, ela daria com o corpo em terra, tamanha fora a exaltação que lhe esgotara os poucos alentos deixados pelas adversidades recentes.

O desconhecido era Lourenço. Acabara de chegar da fazenda do Jatobá. Deixara o cavalo preso pelas rédeas no fundo do sítio e viera, pé ante pé, cauteloso, para não ser visto, a fim de atravessar incólume a estrada e ganhar o lado oposto. Contando com o sítio desabitado, tomara por ele para maior segurança; mas, vendo aberta a porta da cozinha, e pressentindo morador dentro da casa, por curiosidade ficara a espiar, quando saiu D. Damiana, que de modo nenhum o pudera reconhecer, não só porque estava longe de o supor tão perto dela, mas também porque era de noite, conquanto esclarecida