Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/231

Wikisource, a biblioteca livre

companhia. Marcelina, aos respeitos que, por sua condição obscura, julga dever ter para mim, ajunta afetos que me lembram os de minha prezada mãe; Lourenço, filho de Marcelina, não sabe onde me ponha; a solicitude dele para mim não se pode avaliar. Entre os meus, Amador, nunca encontrei nem hei de encontrar mais verdadeira estima.

Estas palavras, impondo silêncio ao irmão de João da Cunha deram-lhe que pensar por alguns momentos.

Horas depois, voltou ao mesmo assunto, outra era a expressão do seu rosto, o tom da sua voz.

Disse:

— Em poucos meses, prima Damiana, aprendeu você uma lição que é a repulsa viva e absoluta de todas as lições da nossa família e da sua vida passada. Muito pode a adversidade; seja, porém, qual for a sua conformidade com as circunstâncias que tanto lhe mudaram os sentimentos, devo declarar-lhe que não acho para isso explicação razoável. Compreendo, e todos compreendem, que, tendo você o espírito elevado e o coração católico, as vicissitudes da sorte gerassem nele menos o desespero que a resignação, e que você visse nos últimos infortúnios largas ocasiões oferecidas por Deus, para dar provas das grandes qualidades de que é dotada. O que nem eu, nem você, nem ninguém poderá explicar, é este enfraquecimento dos laços que a ligaram por tanto tempo a uma vida distinta e limpa. Nem ainda é isto o que mais me admira. Que