Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/241

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maior segurança não ter pouso fixo e ter muitos em vários pontos. Certo havia dentro das matas uma região, um vasto perímetro que os nobres tinham por seguro, e consideravam do seu exclusivo domínio. Dentro dessa região, rica de naturais defesas, em parte aumentadas pelo trabalho dos refugiados, moviam-se estes, segundo convinha. Certo tinham eles armas e munições, víveres e gente para lutar quando oferecesse ocasião; mas - pode-se quase afirmar - não passavam daí os seus elementos de defesa; porque o pensamento de Falcão não era ficar nas matas por muito tempo, não era somente defender-se, mas principalmente, quando a medida dos seus recursos estivesse completa, fazer irrupção sobre a vila odiada, e dar cabo do governador e dos ministros, ou, ao menos, expulsá-los de Pernambuco, a exemplo do que em 1710 haviam feito a Sebastião de Castro Caldas.

— Nós não somos negros fugidos, dissera ele uma vez a um dos companheiros. Os negros contentam-se com o seu esconderijo. Quanto mais oculto é este, tanto mais lhes convém; porque os negros fugidos, como morcegos, têm horror à luz. Nós somos patriotas, que nos ajuntamos aqui especialmente para combinarmos sobre os meios de lançar fora da terra, que nos deixaram nossos avós, os intrusos que miram apoderar-se da herança que nos deixaram nossos pais. As matas de Tracunhaém não são os Palmares. Aqui há homens livres que tratam de castigar o despotismo; aqui há