Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/263

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Ainda por estas razões, que, bem indicam não ser o aludido castigo filho da região das matas, ou do sertão, mas, sim, do litoral, e talvez até de país estrangeiro, provavelmente da Holanda, prevaleceu o da roda de pau, o qual, parecendo mais atroz que o outro, nem sempre, na crença do povo, tinha, como aquele, resultados fatais; porque à roda de pau muitos sobreviviam, ao saco de areia quase nenhum; o primeiro tinha por fim castigar, ou ensinar, como se dizia então, ao passo que o último tinha por fim matar.

Ora, os nobres não quiseram sentenciar à morte o espião; ao contrário, entrara no seu plano que, longe de ocultar o nome de quem lhe aplicara o castigo, fosse depois o espião revelá-lo àqueles cujo era mandatário. Havia nisto particular sabor de vingança - o desdém por não ter o ardil sortido o esperado efeito. Estava tão enraizado no espírito pernambucano do século passado, que não contribuiu pouco para a explosão revolucionária de 1817 a prevenção contra os portugueses, até certo ponto justificada pelo exclusivismo que afastava os brasileiros das posições e empregos importantes na região oficial, e tão em voga o castigo corporal como represália àquele exclusivismo, à qual se ligava a idéia de ter em pouca conta os preferidos, ou de os rebaixar, que um dos nobres - o sargento-mor Leonardo Bezerra, depois de três anos de prisão em Lisboa, escreveu da Bahia, onde voltando ao Brasil, se fixara definitivamente, aos