Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/48

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Todo mais o espaço restante, ocupado pelos destroços, mostrava-se resolvido, e em alguns pontos viam-se até fundas covas, algumas das quais se converteram em barreiras onde as chuvas deixaram as águas estagnadas.

Lourenço meteu a enxada no barro com vontade e em pouco tempo ouviu um som cavo ecoar de sob as camadas que cobriam a madeira.

Com uma nova enxadada, um objeto estalou debaixo do instrumento. Lourenço meteu o ferro-de-cova nesse ponto, e forcejando no cabo, revirou parte dos caibros sotopostos. Ao mesmo tempo um embrulho passou por entre a terra solta, trazido na ponta do ferro. O rapaz corre presto a ver ao achado. Era como uma palma de luva de couro cobrindo um objeto brando e flexível. Com a ponta da faca que trazia ao cós, descoseu este envoltório misterioso, e o que lhe fica nas mãos, tirado o couro, é um papel dobrado em quatro faces.

— Que será isto, meu Deus? disse consigo o rapaz.

Abriu o papel e leu o seguinte:

"Dou a Lourenço, órfão que Francisco dos Prazeres e sua mulher Marcelina, moradores no Cajueiro, têm como filho em sua companhia, a casa e as terras que me deu o senhor do engenho Bujari, sargento-mor João da Cunha Cavalcanti, do outro lado da estrada onde têm a sua casa os ditos moradores.