Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/90

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— Cumpro ordens. As instruções do governador, que me foram transmitidas, são positivas e rigorosas. Parece-me que, se por qualquer circunstância, o que Deus não há de permitir, viésseis a escapar de meu poder, a minha cabeça pagaria esta desgraça.

— Não penseis que estranho a parte que tomaste em nossa prisão; o que estranho é a descortesia que tendes com presos a quem a adversidade não pode ainda, nem poderá nunca fazer esquecer a nobreza natural do seu caráter. Uma vez presos, Coronel, nem Cosme Bezerra Cavalcanti, nem André Cavalcanti, nem Luís Vidal Cavalcanti fugiriam jamais ainda que lhes fosse fácil a fuga. A sua palavra honrada tornaria indispensáveis cordas e algemas.

— Sr. Cosme, eu não acredito na honra, na nobreza e ainda menos nas palavras dos rebeldes - respondeu o coronel. Haveis de seguir amarrados até o Recife. As instrução que me foram dadas não permitem lugar a outro procedimento.

Cosme sorriu com amargura.

— Enganai-vos, coronel, se pensais que vos peço misericórdia. Podeis em lugar de cordas mandar pôr em nossos pulsos pesadas algemas; podeis pôr-nos à ração de pão e água: com isso não fareis mais que antecipar os tratos que nos esperam na semi-tumba das Cinco Pontas. Não vos peço que mandeis afrouxar as cordas que estão cortando os meus braços, tamanha foi a força que Jerônimo