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Página:Luciola.djvu/151

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que me parecer sem que reparem; e não posso vender coisa alguma sem que me suponham arruinada?

— A minha questão é da preferência que dás a esses trastes ordinários sobre os teus lindos móveis de pau-cetim.

— Grande questão. . . Questão de mulher no fim de contas: capricho. Nesta cama que o senhor acha tão feia, e neste quarto que lhe parece tão triste, o sono é doce para mim e os sonhos alegres. Quando entro aqui, sacudo no limiar da porta, como os viajantes, a poeira do caminho; e Deus me recebe.

Dizendo estas palavras, Lúcia ajoelhou em face do crucifixo e recolheu-se numa breve oração mental; depois regaçou a roupa da cama e espreguiçou-se entre as alvas lençarias, com o voluptuoso bem-estar que sente o corpo repousando depois da fadiga.

— Como é bom adormecer assim! disse-me ela pousando a cabeça no travesseiro e fechando-me as mãos entre as suas. Fale; conte alguma história! Sou uma criança! É verdade! Preciso que me acalentem. Mas fale! Diga-me...

— O quê?

— Não se agaste. Qual foi a primeira moça de quem o senhor gostou?

— Foi uma menina, não foi uma moça, respondi sorrindo.

— Ah ! Que idade tinha ?

— Doze anos; e eu acabava de completar dezesseis.

— Oh ! Conte-me como foi !

Contei; um desses idílios das primeiras flores da vida; amores infantis que balbucia o coração ignaro, como antes balbuciara o lábio a palavra indecisa; arpejos vagos que o sopro da brisa arranca das