Onde quer que se lhe depare assunto à mão, não o rejeita, colhe-o para enfeitá-lo com outros, e oferecê-los à sua pátria. Ora canta uma balada da idade média, ora os últimos instantes de Safo. Vasco Nunes recebe um louro, Pizarro um estigma. Quevedo e Cervantes, Lope de Vega e Platen, Aristófanes e Goethe, Espronceda e V. Hugo, e ainda outros têm cada um o seu baixo-relevo na obra do poeta. Ofélia tem uma página. Lélia duas. A musa voa dos Andes ao Tirênio, do presente ao passado, tocada sempre de inspiração e sequiosa de cantar. Mas o principal assunto do poeta é ele mesmo. Essa poesia pessoal, que os trovadores de má morte deslavaram em versos pífios e chorões, encanta-nos ainda hoje nas páginas do poeta chileno.
Escreveu Malta no período em que o sol do romantismo, nado nas terras da Europa, alumiava amplamente os dois hemisférios, e em que cada poeta acreditava na elevada missão a que viera ao mundo. Aquela fé perdeu-se, ou amorteceu muito, como outras coisas boas que vão baixando nesta crise do século. O canto do poeta, ode dedicada a Blest Gana, exprime a serena e profunda confiança do cantor, não só na imortalidade da inspiração, mas também na superioridade da poesia sobre todas as manifestações do engenho