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Página:Marános, Teixeira de Pascoaes, 1920.djvu/153

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Seu primeiro materno pensamento
Como celeste flôr, desabrochou...
Porque no casto ventre já sentia
O seu Menino Deus estremecer!
E que desejo de intima alegria
Lhe beijava, em segredo, os lábios virgens!
E n'um fundo alvoroço caminhava,
Tão alegre comsigo e cuidadosa,
Que tudo, para ela, se tornava
Em esperança e medo ao mesmo tempo...
 
E Marános, em viva comoção,
Beijando o ceu azul e a verde terra,
Estas palavras trémulas soltou
No cristalino ar que envolve a Serra:

«Sol-Nosso que me falas e alumias,
Que alimentas o mundo e o nosso espirito;
Creador de esperanças e alegrias
E creador de Deuses e Florestas !
Sol-Nosso, em terra e céu, santificado,
Venha a nós tua eterna claridade!
E para todo o sempre, seja feita
Tua fecunda e cósmica vontade!»

E os echos dos outeiros repetiam:

«Avé, bemdita Lua esplendorosa,
Cheia de branca magua arrefecida,
No silencio da noite misteriosa...
Avé, Lua, entre os astros do Infinito!
Bemdito seja o Fructo do teu ventre