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Página:Maria Feio - Doida Não (1920).pdf/39

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Depois dos sofrimentos da maternidade, a mãe concentra todo o seu amor no filhinho do seu amor. Com a arte e engenho da sua vocação de estéta, são as suas mãos habeis, laboriosas que fabricam todas as suas roupinhas. Cria-o aos seus peitos com disvelos que são no coração das mães o perfume de aimas enternecidas, a fragrância ideal da ternura maxima. Velou-lhe o sono em vigilias de sobressalto aconchegando aos labios o tenro e roseo pedacito da sua carne, que era o sorriso da sua vida.

Chora quando o rigor do pai o castiga. Um dia, revoltada por ultrajes e humilhações, pensa no divorcio. Mas o pai do pequenino ameaça-a de tirar-lho. E a abnegação maternal prefere todas as afrontas à tortura da separação do filho das suas entranhas.

Mas, afinal, o filho faz-se homem, e o homem faz-se egoista pelo exemplo.

Numa soledade de afectos, irrompe a chama candente de uma paixão febril. E o filho esquece tanto amor e tanto desvelo e secunda os rigores do lado paterno, que lhe injectaram na alma fermentos egoistas, até abafar no coração do filho o coração amorável da mãe. Do lado do pae estava a fôrça, porque estava prestigio e dinheiro. Do lado da mãe a fraqueza, porque existiam apenas tesouros de amor no coração tam mal compreendido, lealdade no delicto e abandono de bens que só legitimamente solicita.

Em face dêstes contrastes, é legitimo estabelecer este paralelo de psicologias:

Do lado da mulher altruismo e Amor. Do lado do homem egoismo causando a Dôr. Ha entre esses dois contrastes o delicto de uma paixão? Mas ainda aí a mulher está no plano simpatico do amor que tem como origem excessos de afectividade reprimida, desconsolos de coração acumulados, e quem sabe quanto desprêzo por