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no ataque de Spada, e que elle me mostrou no meio de um grupo de soldados ao pé da porta onde estavamos, lhe dissera no momento em que Manara se approximara da janella com o seu oculo:

— Olhae bem este official, está morto.

Ao mesmo tempo o soldado havia atirado: a balla chegara ao seu destino; e elle havia visto cair Manara.

O capitão continuava a fallar; eu estava tão triste que não lhe pude responder senão pedindo-lhe que me deixasse entrar na egreja.

— Que ides ahi fazer? me perguntou elle.

— Vou procurar o cadaver de outro amigo, desenterrado hoje mesmo e entregue pelos vossos á dôr de sua mãe.

Mandou pedir permissão ao coronel, obteve-a, e confiou-me ao guardião da egreja para que me deixasse entrar.

A egreja estava escura; o guardião abriu uma pequena porta que conduzia do convento ao côro da egreja, deu-me uma lampada e apontando-me um canto sombrio disse-me:

— Procurae ahi.

Mas elle não quiz seguir-me mais ávante.

Approximei-me triste e piedosamente, com um tremor em todas as veias.

Este silencio, estas trevas, o duvidoso clarear da lampada, o precioso objecto de minhas investigações, a angustia de encontrar assim o encantador mancebo que eu conhecera vivo, tudo isto me fazia pulsar fortemente o coração.

Caminhava lentamente, não conhecia aquelles lugares, sem saber onde estava collocado o corpo, levantando a lampada e tremendo de o tocar com o pé.

Emfim perto dos degraus descobri uma fórma negra e longa.

Reconheci um corpo humano.

Quasi louco de dôr, e de um horror que eu não dominava, inclinei-me sobre elle.