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Oh! triste! triste! triste!

Com a mão que me ficava livre, desatei a corda que ligava o lençol ao pescoço, ao ventre e aos pés. Levantei a cabeça. Ainda que já desfigurado, reconheci que era o pobre moço que eu procurava.

Larguei-lhe a cabeça.

Ella cahiu sobre a lagea imprimindo-lhe um som que eu nunca esquecerei.

Não havia em mim um cabello que não tivesse a sua gota de suor.

Parei tremendo.

Meu Deos, como vós sois grande, e como a morte é horrivel!

Fiz um exforço sobre mim. Medico habituado á morte, não queria ser por ella vencido.

Pousei a lampada sobre um dos degraus do altar, volvendo os olhos para o rosto do morto, olhando-o tristemente: estava mais pallido que o panno que o cobria.

Procurei e toquei suas feridas. Teria querido guardar as ultimas gotas de sangue de seu coração para as levar a sua mãe, e para fazer com este sangue uma cruz sobre o rosto de todos os jovens italianos, que um dia devem levantar-se para o libertamento da sua patria.

Cortei uma madeixa de seus cabellos. Talvez elle tivesse um amigo: com certesa tinha uma mãe.

Emfim apertei-lhe a mão; descobri uma derradeira vez a minha cabeça ante elle e murmurei:

— Até á vista!

Sahi transido da egreja, levando este espectaculo de morte exactamente copiado em mim, que hoje, onze annos depois escrevendo estas linhas, vejo ainda o cadaver, a figura pallida, no seu lençol todo cheio de terra e sangue.

Sahindo encontrei o guarda, depois o official, ao qual apertei a mão sem poder pronunciar uma palavra.

No dia seguinte o cadaver de Morosini foi deposto n’um