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caixão de chumbo, esperando o momento da partida para o solo natal com os cadaveres dos seus inimigos.

Todos nós desejavamos com egual ardor ter pormenores sobre a morte de Morosini; mas os mais eram obrigados a partir. Ficavam só os mortos, e os que ajudavam os feridos a morrer.

Eu era dos ultimos.

Eis aqui, pois o que soube sobre a morte de Morosini. Colhi estes pormenores que vou dar de mr. de Santi, corso empregado no serviço sanitario dos francezes, e que na noite de 29 a 30 de junho era cirurgião na ambulancia do fosso.

Este honrado e bom confrade, ao qual sou devedor de alguns serviços, me contou que a 30 de junho ao raiar d’alva trouxeram a ambulancia um dos nossos officiaes, tão joven e tão bello que elle o tomou por uma mulher.

Estava levemente ferido na testa, na mão esquerda e no peito, mas mortalmente no ventre.

De Santi o havia tratado com affeição.

Morosini que ainda fallava, perguntou-lhe:

— Que pensaes das minhas feridas?

De Santi respondeu:

— Tende confiança em Deus e na vossa mocidade.

— Está bom, disse Morosini; comprehendo, estou perdido!

Depois ajuntou com um suspiro:

— Pobre mãe!

Entregou uma carteira ao douctor, volveu a cabeça, e recusou desde então pronunciar mais uma só palavra.

Poucos minutos depois de Morosini ter sido curado, um velho sargento do 32.º entrou na ambulancia, e depois de ter anciosamente procurado o leito do joven official, disse ao medico.

— É elle!

— Que quereis dizer? lhe perguntou de Santi.

— Que a lodo o custo queria salvar este pobre