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os á costa. O Rio Pardo tinha, como já disse, trinta homens de equipagem, uma peça de doze, uma grande porção de caixas, e outros objectos de toda a especie, que tinhamos levado por precaução, por não sabermos o tempo que estariamos no mar, e a que praia chegariamos, e qual seriam as circumstancias em que estaria essa praia no momento em que nos dirigiamos para um paiz inimigo.

O lanchão achava-se pois mui subcarregado, e as vagas cobrindo-o de minuto em minuto, ameaçavam submergil-o. Resolvi então aproximar-me da costa e tomar terra na parte que me pareceu accessivel; mas o mar que ia sempre crescendo, não nos deixou escolher a posição que nos convinha, e uma vaga enorme nos arremeçou para a costa.

Estava n’essa occasião na parte mais elevada do mastro do traquete, d’onde esperava descobrir uma passagem atravez os rochedos. O lanchão inclinou-se sobre o estribordo e eu fui lançado a trinta pés de distancia.

Ainda que estivesse n’uma posição perigosa, a confiança que tinha nas minhas forças como nadador, fez com que não pensasse um unico momento na morte, e tendo comigo alguns companheiros, que não eram marinheiros, e que momentos antes tinha visto deitados no tombadilho e mui enjoados; em logar de nadar para a costa, comecei a reunir uma parte dos objectos, que pela sua ligeireza promettiam conservar-se á superficie, e comecei a empurral-os para o navio gritando aos meus homens que se lançassem ao mar e que apanhassem alguns d’aquelles objectos, tratando de ganhar a costa que se achava na distancia de uma milha. O navio tinha-se afundado, mas a mastreação conservava-o com os seus flancos de bombordo fóra de agua.

O primeiro que eu vi agarrado ás enxarcias foi Eduardo Mutru um dos meus melhores amigos: atirei-lhe um fragmento da escotilha recommendando-lhe que o não alargasse.