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Este estando quasi salvo, lancei os olhos para o navio.

Vi então o meu caro e corajoso Luiz Carniglia. Estava ao leme no momento da catastrophe, e havia ficado agarrado á popa do navio. Infelizmente estava n’esta occasião vestido com uma jaqueta de uma enorme roda. Não havia tido tempo de a tirar, não podendo por isso nadar em quanto a tivesse vestida. Vendo que me dirigia para elle começou a gritar.

— Agarra-te bem, lhe respondi, que já te dou soccorro.

Subindo ao navio como o teria podido fazer um gato, cheguei ate junto d’elle; agarrei-me com uma mão a uma borda, e com a outra tirando da algibeira uma faca que infelizmente cortava pessimamente, comecei a rasgar as costas da jaleca. Tinha quasi finalisado esta minha ardua tarefa, e Carniglia estava quasi salvo, quando um golpe de mar horrivel, envolvendo-nos fez em pedaços o navio e lançou ao mar os homens que ainda se conservavam a bordo.

Carniglia foi tambem precipitado e não tornou a apparecer.

Lançado ao fundo do mar como um projectil, voltei á superficie todo aturdido, mas tendo uma unica idéa — a de soccorrer ao meu charo Luiz. Comecei a nadar em volta da carcassa do navio chamando-o em altos gritos, mas elle não me respondeu. Esse bom amigo que já me tinha salvo a vida, tinha morrido sem eu o poder soccorrer.

No momento em que abandonava a esperança de salvar Carniglia, lancei os olhos em volta de mim. Por uma graça especial de Deus, n’este momento de agonia para todo o mundo, não pensei um unico momento em mim tratando unicamente dos outros.

Vi então os meus companheiros nadando para a praia, separados uns dos outros segundo a sua agilidade ou força. Alcancei-os em um momento e animando-os com os meus gritos, passei-lhe adiante, sendo