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MEMORIAS DE UM NEGRO
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a ficar onde estava. Resignei-me, dizendo cá por dentro:

— Bonito. Estou agarrado.

O geito que tive foi cear. Depois uma das senhoras se lembrou de que trazia no sacco de viagem um chá maravilhoso, desejou que o experimentasse-mos e, não confiando na cozinha do trem, preparou-o com arte e serviu-o. Bebi o chá. E como tudo tem fim, a refeição terminou, a mais longa da minha vida. Ancioso por livrar-me daquella situação penosa, pedi licença para entrar no compartimento vizinho, fumar um cigarro e olhar a paizagem. Ahi chegando, vi que me haviam reconhecido e fiquei assombrado: quasi todos os cavalheiros que ali se achavam, na maioria cidadãos da Georgia, vieram apertar-me a mão, agradecer-me o que eu fazia no Sul. E não era lisonja, que nenhum esperava nada de mim.

Sempre me esforcei por demonstrar aos alumnos que Tuskegee não é coisa minha, mas de todos os que aqui vivem. Aconselho-os a interessar-se pelos negocios da casa tanto quanto os administradores e os professores, a não considerar-me censor, mas amigo. Quero que me falem sem rodeios, com toda a franqueza, peço-lhes que me escrevam, duas ou tres vezes por anno, expondo criticas, reclamações, propostas relativas á organização e ao regimen da escola. Em falta de escriptos, reuno os es-