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MEMORIAS DE UM NEGRO
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Nas minhas primeiras tentativas aconteceu-me palmilhar estradas e ruas, dias inteiros, sem receber um dollar. Decepções e mais decepções me acabrunhavam durante uma longa semana. De repente offertas generosas surgiam donde eu menos esperava, e casas que me pareciam acolhedoras se fechavam.

Disseram-me ha tempo que um capitalista residente a meia legua de Stamford, no Connecticut, desejava conhecer a situação de Tuskegee e as suas necessidades. Puz-me a caminho num dia tempestuoso, andei a meia legua a pé e, a custo, consegui avistar-me com o sujeito. Falei, expliquei, demonstrei, elle me ouviu attento, interessou-se pelo que eu lhe dizia e nada me deu. Retirei-me certo de haver conversado tres horas á toa. Um desastre. Emfim tinha cumprido o meu dever. Dois annos depois recebi esta carta:

”Aqui lhe envio para a obra de Tuskegee um cheque de dez mil dollars. A minha intenção era legar-lhe esta somma em testamento, mas, reflectindo, achei melhor offerecel-a agora. Guardei excellente impressão da visita que o senhor me fez, ha dois annos”.

Nenhuma generosidade me deu tanta alegria. Era o presente mais importante que haviamos recebido e cahia do céo, num momento de vaccas magras. Não ha nada peor que ser director dum gran-