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MEMORIAS DE UM NEGRO
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lenha para a ceia, mas, antes de extender a enxerga no chão, uma enorme serpente negra, de metro e meio de comprimento, sahiu do fogão e nos afugentou.

Chegámos emfim ao nosso destino, uma cidadezinha chamada Malden, a legua e meia de Charleston, hoje capital do Estado. A riqueza dessa parte da Virginia eram as minas de sal, e muitos fornos rodeavam Malden. Meu padrasto, que já tinha achado trabalho em um delles, conseguiu para nós uma cabana semelhante á que tinhamos deixado na fazenda. Realmente era um pouco peor. A nossa velha casa se achava de facto horrivelmente estragada, mas pelo menos lá respiravamos ar puro, E essa de agora estava mettida numa embrulhada compacta de habitações. Como não havia regulamentos sanitarios, a immundicie nos arredores era insupportavel.

Na vizinhança havia negros e brancos, brancos da especie mais baixa, pobres em demasia, ignorantes, abjectos. Multidão extravagante. Bebedeira, jogos, brigas, safadezas, constituiam a occupação ordinaria dessas criaturas.

Todos os que viviam na cidade ligavam-se, de um ou de outro modo, ás minas de sal. Apesar de muito novo, empreguei-me com meu irmão em uma das usinas, onde muitas vezes fui obrigado a tra-