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BOOKER T. WASHINGTON

balhar ás quatro horas da manhã. Foi ahi que me iniciei nos conhecimentos scientificos. Cada homem da embalagem tinha os seus toneis marcados com um numero. O de meu padrasto era 18. No fim de um dia de trabalho o capataz vinha escrever sobre os nossos toneis esse numero, que afinal se tornou meu conhecido; acabei por saber reproduzil-o, embora ignorasse todos os outros signaes, algarismos ou letras.

Muito cedo me veio um forte desejo de aprender leitura. Pensei que, se nada conseguisse na vida, isso me daria pelo menos a satisfação de ler jornaes e livros ordinarios. Apenas installados em nossa cabana da Virginia Occidental, pedi a minha mãe que me arranjasse um livro. De que fórma ella o achou e onde achou não sei, mas a verdade é que me trouxe um livrinho antigo de Webster, um folheto de capa azul que encerrava o alphabeto e syllabas sem sentido, como ab, ba, ea, da. Comecei a devorar essa brochura, a primeira que me cahiu nas mãos. Tinham-me dito que era preciso conhecer o abecedario, e esforcei-me tenazmente por aprendel-o, sem mestre. Nesse tempo não existia por ali um negro que soubesse ler, e eu era timido, não me aventurava a falar com os brancos. Em algumas semanas pude, entretanto, distinguir muitas letras. Minha mãe participava das minhas ambições e auxiliava-me com vontade. Em sciencia es-