E sentia em mim a vivificante sympathia da natureza, o amor dos pequeninos, a ternura comprehensiva para tudo que vive, que sente, que palpita na enorme Creação.
Quando acabou de ler, fechou o livro, e naturalmente, sem languidez, sem cansaço, pegou de novo no trabalho, e recomeçou a bordar.
Aproveitei o ensejo e sentei-me n’uma cadeira vaga ao seu lado.
Conversámos muito. Em muita cousa, em quasi tudo.
Era um gosto ver de perto a luz tranquilla e doce d’aquelle olhar azul escuro, reflectido, serio, innocente.
Não baixava os olhos deixando transparecer nas faces rubor intempestivo; tinha um modo seu de olhar, franco, sincero, de uma limpidez de lago suisso em que se reflectisse o largo céu da primavera.
De vez em quando ria-se.
Que musica crystallina a do seu riso!
Uma das vezes lembra-me, que seguindo o falso pendor da nossa detestavel educação de sala, fui sentimental, sem dar por isso, de uma sentimentalidade piegas, da que produz sempre um certo effeito no espirito das meninas que valsam.
Levantou subitamente a cabeça, como se ficasse um tanto surprehendida, como se tivesse agourado melhor de mim, á primeira vista.