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Página:Novellas extraordinarias.pdf/27

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O corvo disse:

— Jamais.

Fiquei pasmado de vêr aquelle desengraçado vôlatil comprehender assim a palavra, posto que a sua resposta não tivesse um grande senso, nem respondesse de modo algum à minha pergunta; porque é preciso confessar que nunca foi dado a um homem vivo, vêr, por cima da porta do seu quarto, um passaro ou um bicho, sobre um busto esculpido, com semelhante nome: "Jamais!"

Mas o corvo, solitariamente empoleirado no busto placido, não proferiu senão aquella palavra unica, como se n'ella toda a sua alma se espargisse. Então murmurei em voz baixa:

— Todos os amigos me têm deixado: amanhâ tambem este me fugirá, assim como todos os outros me fugiram, assim como voaram as minhas ridentes esperanças!

E o passaro tornou a dizer:

— Jámais!

Ao ouvir aquella resposta tanto a proposito, estremeci.

— Provavelmente, disse eu commigo mesmo, não sabe senão esta palavra. Isto elle apprendeu com algum mestre infortunado, a quem a impia desgraça perseguiu sem treguas, e cujos cantares acabaram por não ter senão aquelle melancolico estribilho, especie de De profundis de todas as suas esperanças:

— Jámais!

Mas o corvo induzindo ainda a minha alma triste a sorrir, puxei a cadeira para defronte d'elle, do busto e da porta, e comecei a ligar idéa com idéa, procurando adivinhar o que aquella ave agoureira de outros tempos, o que aquelle triste, desengraçado, sinistro, magro e agoureiro passaro de outros tempos, queria significar com o seu Jámais!

Assim me detive um tempo, sonhando, meditando,