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Página:Novellas extraordinarias.pdf/348

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NOVELLAS EXTRAORDINARIAS

contrei na ante-camara uma creada, toda em lagrimas, que me disse que Berenice deixára de existir! De manhã fôra atacada de epilepsia. E agora, ao cahir da tarde, o tumulo esperava a sua futura habitante; todos os preparativos do enterro estavam terminados!

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Afflicto e gelado de terror, dirigi-me com repugnancia para o quarto da morta. O quarto era vasto e muito escuro. Os meus pés esbarravam a cada passo com os aprestos da sepultura. Sob as cortinas do leito (disse-me um creado) estava o caixão, e n'aquelle caixão (ajuntou em voz baixa) jaziam os restos de Berenice.

Quem me perguntou se não queria vêr o corpo? Não vi que nenhuns labios se movessem; comtudo, à pergunta havia sido feita. O echo das ultimas syllabas resoava ainda pelo aposento. Era impossivel recusar. Com um sentimento de terrivel oppressão, caminhei para o leito. Levantei lentamente os cortinados, mas deixando-os cahir, fiquei por dentro d'elles, separado do mundo vivo, na mais intima communidade com a morta!

Toda a atmosphera do quarto exhalava a morte, mas o ar circumjacente do ataúde soffocava-me; parecia que um cheiro deleterio sahia já do cadaver. N'aquelle momento, teria dado mundos para poder fugir à influencia perniciosa da mortalidade, para respirar ainda uma vez o ar puro dos céos eternos. Mas os meus movimentos estavam paralysados, vacillavam-me os joelhos, os meus pés pareciam ter creado raizes no solo, e os olhos não queriam despregar-se d'aquelle cadaver rigido, estendido ao comprido no caixão aberto.

Justo céo! É possivel! Foi allucinação do meu cerebro, ou moveu-se realmente o dedo da defuncta dentro da tela que o envolvia? Trémulo de inexprimivel terror, volvi os olhos para a physonomia do cadaver. O lenço