Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/100

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sportman, e percebendo o fim que visava o jogo do marido: — Muito te dá que fazer aquele Câmara!... Queres pegar porque conversei com ele, não é verdade?... Pois sê franco, homem! Ralha para aí!

— Ralhar, eu! Que ideia! — emendou manso o barão, progressivamente cáustico, numa bonomia desdenhosa. —Assim me supões tão ferozmente alarve?... Sei que para as senhoras o mais saboroso prazer é escutar amabilidades. Naturalíssimo... Roçagam-lhes a vaidade, que é a paixão dominante do sexo lindo. Chega a ser para vocês um divertimento inocente. E havia de eu censurar-te porque deste um pouco de atenção a um cavalheiro amável?... Pois não gostas também de amabilidades, tu?
— Pudera! Ando tão pouco acostumada a elas!... — remoqueou D. Elvira, agressiva, pondo no tom sacudido deste breve queixume um frio de amarga censura.
— Eu não sou positivamente um lamecha. Tem paciência.

E a questiúncula ameaçava crescer, cada vez mais irritante.

Neste momento o coupé, que atingira o fundo da Rua do Salitre, rodava pela frente do Circo, ruidosamente... Tudo apagado. Terminara o espetáculo. Na rua deserta apenas se movia uma patrulha da Municipal, deslize e muda como uma sombra, no seu duplo cone de oleado escorrendo o gás pacato dos lampiões. Ao aspeto do Circo, o barão reviveu num relance toda a cena da antevéspera com o efebo: — as tentativas pertinazes para lhe atrair a atenção; a sua inflamada e tortuosa eloquência em convencê-lo, à esquina do Passeio —