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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/101

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aqui mesmo! —, e depois, no dia seguinte, Rua da Rosa, a impagável descoberta da sua linha anatómica, seguida de um minuto inolvidável de prazer... oh! o prazer mais rabidamente impetuoso e mais estonteadoramente cheio que, ao abalo da novidade e da surpresa, a sua natureza devassa de artrítico ainda até àquele dia tinha logrado sentir. Esta lembrança afogou-o numa undação celeste de volúpia, deu-lhe a leveza rútila do triunfo, ergueu-o numa acalmação dolente de felicidade que o levou para longe, para muito longe da deliciosa criatura, ali nervosa e quente ao lado dele, respirando o mesmo ar quase, dando-lhe contactos de carne polposa e fresca por cada solavanco do carro na calçada. E o Câmara esqueceu-lhe.

Porém a baronesa, em cuja alma inconsistente e mimalheira a reprimenda do marido desatara a fazer estragos, como um pingo de água numa pintura em cera, disse:

— Para que a gente se casa!... Nem ao menos somos senhoras de conversar com quem quisermos!

Arrancado brusco à sua evocação voluptuosa, o barão deu em replicar grosseiramente, na crua intenção de ofender:

— Olha, decerto!... Cabeças ventoinheiras como a tua melhor valia que não casassem. Ao menos, ficando solteiras, podiam tolejar à vontade sem se comprometerem mais do que a si mesmas.
— Assim me insultas?... E incrível isto! — murmurou a baronesa, mordendo os lábios, de raiva.
— Pois tu realmente estarás convencida de que te não excedeste, de que te não tens excedido