Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/116

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uma grande rosa que meu pae lhe tinha mandado.

O barão, encantado com o detalhe, fascinado por aquella flor em miniatura, tão finamente aguarellada a bistre na alvura azulada e tenra da epiderme pennujosa, tomou com as duas mãos o braço, beijou demoradamente o signal, e murmurou n’um extasi triumphante:

— Com que o primeiro, eu!...

Depois súbito, liberal, reconhecido:

— De hoje em diante, tens dois mil reis !


E a vida correu para o rapaz um néctar, um céu-aberto, uma panria sem ègual.

Tinha dinheiro á farta, bôa casa, mesa excellente, cama de príncipe e obrigações...nenhumas !— a não ser aquella de aturar, dias por dias, umas tantas horas, o barão. Que não era das mais custosas, afinal. Peior seria rizar uma vela, remar, fazer carretos, cavar, manejar a plaina ou a picareta. Puxava do peito !... Aquella porcaria, em summa, com a continuação já nem se lhe dava... Era estar p’r’ali.

D. Sebastião fêl-o vestir e calçar de novo. Elle proprio o acompanhava, no principio, aos estabelecimentos, onde lhe abriu credito e onde presidia á escolha dos artigos,—tudo do melhor!— normalisando-lhe o gosto, incutindo-lhe regras de aceio, de apuro, de elegancia. O fallar ia-lh’o egualmente corrigindo. Não que o barão não gostasse de ouvir silvar os plebeismos na bocca acerejada do amante. Incantava-o até a propriedade flagrante e o sabor acanalhado de muitas dessas formulas da rua, que resumem tanta vêz uma philosophia inteira. Mas entrára