Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/21

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O amigo convidou, todo affavel:

— Vem d’ahi comnosco!

— O’ menino, não posso, bem vês. Combinámos... Desculpem-me... E d’ahi, talvez tenham chuva. A noite não está bôa.

— Toma-se um trem. Isto de hoje não póde passar.

— Adeus, — rematou D. Leonor, estendendo a mão ao barão. — Recommendações á Elvira. E depois de amanhã não faltem!

— Por modo nenhum! — corroborou Henrique, apertando tambem a mão ao amigo. — Adeus... Olha que o espectaculo já começou.

Effectivamente nas immediações do Circo rareava o publico e o pejamento da rua desaparecera. Na frontaria farrapenta e mesquinha d’aquele barracão verdenegro, os dois oculos de venda dos bilhetes, agora a descoberto, fulguravam como olhos de cyclopes, quentes e vermelhos. O noroeste frigido recalcava as lufadas de ar quente, no portal escancarado. Vinham dilatadas perder-se na aspereza humida da noite as ultimas sonoridades d’um galope sediço. Um estalo de chicote vibrava branco, de quando em quando. O barão, attrahido pela sensualidade do espectaculo, foi comprar bilhete. Emquanto o bilheteiro lhe fazia o troco, o bom do velho Price, sentado ao fundo do cubiculo, gordachudo e flaccido na grande luz do recinto, os dedos entrecruzados beatificamente sôb o ventre, dormitava.

Lá dentro a funcção, a despeito do cartaz berrante, seguia com a monotonia do costume. Depois d’uma voltigeuse banal furando arcos de papel de sêda, um intermedio comico pelo primeiro clown, prodigios de equilibrio d’uma