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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/35

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commettidos no Brazil, no mar das Indias, na ilha de Repelim, em Ceylão, na costa do Malabar. Um dos Castros de Monsanto, então na côrte, homem de terras e de dinheiro, foi insinuado ao rei como devendo embarcar. O sombrio e fanatico monarcha não o via de feição. Surprehendêra-o uma vez, á missa, rindo. Pouco depois, como tivessem chegado a Portugal os quatro primeiros padres da Companhia de Jesus, o desastrado Castro permittiu-se pôr em duvida, na frente do rei e da nobreza, a austeridade e a pureza de intenções dos padres jesuitas. O soberano agastou-se. Para mais, tres d’esses jesuitas, — e um d’elles era S. Francisco Xavier, — embarcavam já com róta ao Oriente na esquadrilha de Martim Affonso, para missionar. — Que fôsse o Castro! Era quasi certo que ao cabo d’essa longa viagem na salutar companhia de tão santos varões, elle estaria convertido. — E o rei achou bom, indeclinavel que o zombeteiro aulico saísse de Lisbôa; não inquinásse elle da heresia a catholica subserviencia da côrte de sua magestade fidelissima. Grande obra de piedade, fazel-o embarcar. — Que fôsse!

Mas o pobre fidalgo era molle, doente, lymphatico, poltrão. Tinha um pavor invencivel ao mar. Andava, demais, perdidamente enamorado por D. Branca de Noronha, servilhêta, e, — dizia-se, — filha bastarda da casa dos Noronhas, — outra nobre familia antiquissima, prendendo nos reinos de Leão e de Castella, muito fundo, as raízes da sua estirpe. Correspondia-lhe por egual a formosa menina, — temperamento manso e sonhador, todo feito de passividade e modestia, reclamando a calentura cons-