Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/76

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Todos se voltaram, a cumprimentar os recém-vindos; só o coronel se não mexeu. Com o cotovelo esquerdo firmado sobre a mesa e a mão rodilhando a pêra luzidia e negra numa abstração romântica de poeta que arma o laço a um verso rebelde; os olhos piscos e erguidos num gesto pedante de preciosa elaboração interior; e a mão direita, de pena enclavinhada, imóvel, implorando que alguma coisa descesse para ser escrita, o bom do velho, cheio de si, numa auréola de glória, sorridente, realizava um destes tipos imensamente patuscos de cretinos que se julgam génios, e de cuja desopilativa assistência anda a sociedade tão rica, para bem de quantos não podem ir a Arcachon ou a Vidago desengrossar humores...

Tinha mais de 60 anos; bastava a confirmá-lo a patente que alcançara no exército. No descalabro marcial do rosto, caparrosado e flácido, papejando engelhado e mole aos lados das maxilas, negrejava, num destaque ridículo de fazer dó, a juventude artificial das sobrancelhas ramalhudas e do espesso bigode, lustroso, erguido caracolado nas pontas por escamas de cera.

O cabelo, raro, mas povoando-lhe ainda toda a cabeça, igualmente lustroso, cor de crina, formava ao alto da testa uma poupa galinácea e empastava-se depois sobre o crânio numa aderência lambida e crassa de pomadas, afastado por uma grande risca que seguia do temporal esquerdo, alinhada como um pelotão, irrepreensível, larga, a perder-se, transposta a nuca, na fímbria do colarinho.

— Como estás, minha filha? — disse para D. Elvira a mãe, escoldrinhando com olho amoroso a baronesa.