Amélia agora começava a andar assustada. De dia e de noite só pensava naquelas horas, que se avizinhavam, em que devia sentir chegarem as dores. Sofria mais que durante os primeiros meses; tinha tonturas, perversões de gosto - que o doutor Gouveia observava, franzindo a testa descontente. As noites eram más, numa turbação de pesadelos. Já não eram as alucinações religiosas: isso cessara numa súbita aplacação de todo o terror devoto: não sentiria menos temor de Deus, se já fosse uma santa canonizada. Eram outros medos, sonhos em que o parto se lhe representava de modos monstruosos: ora era um ser medonho que lhe saltava das entranhas, metade mulher e metade cabra; ora era uma cobra infindável que lhe saía de dentro, durante horas, como uma fita de léguas, enrolando-se no quarto em roscas sucessivas que ganhavam a altura do teto; e acordava em tremuras nervosas que a deixavam prostrada.
Mas ansiava por ter a criança. Estremecia à idéia de ver um dia inesperadamente a mãe aparecer na Ricoça. Ela escrevera-lhe, queixando-se do senhor cônego que a retinha na Vieira, dos temporais que já reinavam, da solidão que se ia fazendo na praia. Além disso D. Maria da Assunção voltara; felizmente, uma noite providencialmente gelada dera-lhe durante a jornada uma inflamação dos brônquios - e estava de cama para semanas, segundo dizia o doutor Gouveia. O Libaninho, esse, também viera à Ricoça; e saíra lastimando-se de não ter visto a Amelinha "que tinha nesse dia enxaqueca".