Página:O Gaucho (Volume I).djvu/48

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amanha chegará minha vez; todavia cá entre nós quem manda é o mais forte; não somos governados por um menino de dez annos.

— Quem governa é a lei; respondeu Bento Gonçalves em tom seco.

— Burla, coronel; este mundo é governado por duas cousas: a forca ou a astucia. O mais, isso de lei, de liberdade e justiça, são palavras sonoras para o povo, que no fim de contas não passa de um menino a quem se acalenta com um chocalho... O Rio Grande lhe pertence, coronel, como a Banda Oriental á mim, D. Juan Lavalleja.

— Vamos ceiar, general.

— Então deixa passar a occasião?

— Sou brasileiro; nasci cidadão do império; e assim heide viver, emquanto houver liberdade em meu paiz; porque para mim a liberdade não é uma burla para enganar o povo, mas o primeiro bem, que não se perde sem deshonra, e não se tira sem traição. Quando eu me convencer que para ser livre, é preciso deixar de ser imperialista, não careço que ninguém me lembre o que me cabe fazer. O coronel Bento Gonçalves saberá cumprir seu dever.