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Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/232

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em punho, ameaçando com certeiros golpes, quaes são os seus, a vida de alguem, sinto tão grande dor, que vossê não pode comprehender o meu padecimento.

Cabelleira inclinou os olhos ao chão, metteu a faca na bainha e deu o andar com os fructos debaixo do braço.

— Para que traz vossê estes fructos comsigo? perguntou-lhe Luiza. Elles não nos pertencem, e não podemos apossar-nos, contra a vontade de seu dono, daquillo que não é nosso.

— Que vamos comer? perguntou muito naturalmente o mancebo.

— Comeremos o que nos der o mato. Deus está em toda a parte, e não se esquece dos que invocam a sua protecção.

Cabeleira submisso e humildemente depôz as frutas no chão sem mais reparo. Quanto ao rapazito, guarda da vasante, bavia desapparecido desde que ouvira pronunciar o nome, que de sul a norte significava, para grandes e pequenos, roubo e atrocidade.

Nova sorpresa os esperava na margem, onde o bandido foi dar com dous individuos que de pé o olhavam do alto de uma pedra, tendo um delles pelo cabresto o ardego alazão, já livre da pêa com que o atirára ao campo o Cabelleira.