Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/292

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— De que choras, Cabeleira? perguntou-lhe o soldado que delle se mostrára compassivo. Estás com mêdo da morte?

— Não, não tenho mêdo de morrer, disse elle. Estou chorando de me haver lembrado da unica mulher, a quem, depois de minha mãi, quiz bem nesta vida.

— Qual mulher? Será a que deixaste morta junto das cabeceiras do rio?

— Essa mesma. Vossê a viu?

— Sim, eu a vi. Mas que bem poderias querer a ella, si foste tu proprio, Cabelleira, que a mataste?

— Não, eu não a matei; ella morreu, ella mesma, quando se considerava feliz comigo, e quando eu via nella meu maior prazer, minha maior dita. Ah Luizinha, tu bem sabes que eu te queria muito bem, muito! Que pena tenho eu quando considero que te perdi para sempre, que te deixei no deserto, que os carcarás furaram teus bellos olhos, que os urubús despedaçaram tuas carnes, e que os anuns, pretos como meu coração, esvoaçam por cima de teus ossos!

Os soluços embargaram a voz do desgracado.

— Si é por isso, não chores, Cabelleira. O corpo de Luizinha não ficou ás aves nem aos animaes do mato.