Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/315

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foram eles processados, e afinal condenados pela junta de justiça a morrerem enforcados; senten­ça que cumpriram quatro dias depois de proferida e subiram ao patíbulo, dando mostras de grande contrição, e arrependimento de seus delitos.

Os trovadores daquele tempo compuseram cantigas alusivas á vida e morte do Cabeleira: e ainda hoje as velhas cantam essas trovas quando acalentam os netinhos."

É de observar que pela alcunha Cabeleira, a meu parecer deve entender-se antes o filho do que o pai; e que Fernandes Gama, designando com ela este último, foi vitima de equivocação muito desculpável em um escritor que escreveu quase um século depois dos acontecimentos.

Os trovistas deixam fora de dúvida este ponto quando dizem:

Fecha a porta, gente,
Cabeleira aí vem;
Ele não vem só,
Vem seu pai também.
Meu pai me pediu, etc.
Meu pai me chamou, etc.

Enfim, quase todas as trovas autorizam crer que a alcunha pertenceu ao filho, e só a este.

Ainda outro argumento a favor desta opinião, se o que aí fica não fora mais que bastante.

A musa do povo não cantaria um tão grande assassino se nele não descobrisse algumas qualidades dignas. A musa do povo não é torpe, não exalta o sicário infame e no todo desprezível. Por este chora o povo uma lágrima ao passar por ele, e afasta-se triste e mudo, não lhe dá um lugar na sua imaginação, não lhe con­sagra uma nota do seu melancólico e suavíssimo instrumento.

Seus trenos singelos e santificadores, se algumas vezes envol­vem