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se fragmentou em varias famílias, adoptando nomes de diversas palmeiras, de onça etc. [1]

Em geral concordam todos os membros de uma tribu em usar certos ornamentos ou insignias que lhes servem de distinctivo, escolhendo para isso as diversas especies de ornatos de pennas na cabeça, discos de madeira, palhas, pedras, cylindros de resina e conchas que trazem nas orelhas, nas narinas e nos beiços e, sobretudo, as tatuagens [2] que com o maior cuidado praticam no rosto e em todo o corpo, desde a infancia, de conformidade com o costume dos parentes e sempre com a mesma regularidade. Talvez não seja inexacta a minha opinião já externada [3] de que taes distinctivos nacionaes sirvam ao mesmo tempo de signaes permanentes principalmente para reconhecerem-se de longe como amigos ou inimigos.

O que, porem de modo especial estabelece e regula a fórma das relações reciprocas entre os diversos povos, tribus ou hordas, é a lingua. Uma lingua commum ou pelo menos identica, geralmente irmana esta gente bruta e apesar de que, não raras vezes se guerream, taes brigas, todavia, são transitorias, ao passo que outras tribus, cuja lingua nenhum parentesco apresentam, são inimigas permanentes, em eterna perseguição reciproca. Uma inimizade constante e hereditaria entre certas tribus está intimamente ligada com o seu nacionalismo. Pedindo a um selvagem o nome da sua tribu, elle quasi sempre e sem disso ser interpellado, dá também o nome da tribu que é sua inimiga mortal. Assim cada Mundrucú entende como inteiramente natural, até como dever sagrado para com o seu povo, de perseguir por toda a parte o pobre e fraco Parentintim, cortar-lhe a cabeça e mumifical-a para figurar como um tropheu horrível. Desta fórma quasi toda a tribu tem um inimigo declarado e ambos se consideram reciprocamente proscritos.

A conservação do sentimento de uma origem identica ou apparentada, por meio de uma lingua igual ou parecida, arma as partes de um povo ou de uma tribu contra os inimigos communs. Ao mesmo tempo e de diversos logares, organizam-se os ataques contra o inimigo, segundo certas convenções e auxilio mutuo. A inclinação innata para a caça e para a guerra, o sentimento vingativo facilmente despertado e a poderosa força da ambição, unem-se para conduzir toda uma communidade a uma expedição armada e nenhum homem valido, de livre vontade, se exime de acompanhar taes empresas guerreiras. As relações mantidas entre as tribus de um e mesmo povo ou entre as hordas da mesma tribu, representam, pois, uma tacita alliança ofíensiva e defensiva. Taes allianças, porêm, não limitam-ae aos individuos da mesma tribu ou povo, varias circurastancias determinam não só a união entre communidades differentes mas causam também fragmentação entre outras, genericamente apparentadas ; assim, por exemplo, parecem quasi que

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  2. As tatuagens já eram praticadas pelos antigos, como os babaros britannicos (Solin c. 22) que isso tinham o nome de Pictens (Grimm. Rechsalterth.), os Tracios (Diod Fragm. Wess. XXXIII 9 pg. 87 et (Bipontina) os Sarmatos (Plin - XXII. c* 3) e os Assyrios e Hierapolis também (Lucian. de dea syr. ad fin.)
  3. Reise III . pg. 1279.