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Monteiro Lobato

Mas é mulher. Adivinha de instincto que as flores fel-as Deus para a mulher e colhe-as e tece-as em guirlandas, e com ellas enfeita os cabellos e o collo e a cintura. E assim, toda flores, mira-se no espelho das aguas e sorri. E porque sorri, logo salta, alegre, e dansa. E porque dansa, anima as selvas da luz maravilhosa que a Grecia ensinou ao mundo.

Subito, um rumor na matta fal-a estacar. A filha de Dyonisus se apaga e surge Diana. Eil-a de arco em punho, em louca desabalada, na pista do galheiro que, incauto, interrompeu sua bella improvização choreographica.

Quem lhe ensinou a dansar?

Tudo. O sangue estuante, o vento que agita a fronde das jissaras, o remoinho das aguas, as aves.

Viu dansar tangarás, um dia, e desde esse momento sua vida é uma continua e maravilhosa creação em que a alma da terra, americana se exsolve em movimentos rythmicos.

Sempre mulher, Marabá amansou uma veadinha de leite e tem-na comsigo como inseparavel companheira, docil ás suas expansões de carinho.