Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/468

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uma cova, pás de terra, que atirava sobre a que havia fora. Era Joaquina.

Lourenço quase a não conheceu, tão demudado estava o resto da infeliz. A dor envelhecera-a em poucas horas. A dor tem mais violência e rapidez na sua obra do que o próprio tempo.

— Joaquina só se deixava ver da cintura para cima. A outra parte do corpo estava metida na cova. Os cabelos, em sua maior parte embranquecidos pelas necessidades usuais da vida do pobre, e agora pelo sopro da adversidade que lhe enrelegara os últimos alentos, caindo sobre as faces murchadas e macilentas, davam-lhe uma feição que gerava vexame em quem a via.

— Sem dizer uma palavra sequer, Lourenço que aprendera de Marcelina a Ter para os cadáveres pias demonstrações, ajoelhou-se aos pés do corpo de Victorino, rezou em silencio sua oração, e, erguendo-se, aproximou-se de Joaquina, tomou-lhe a pá das mãos e pôs em lugar dela a prosseguir o ultimo trabalho que o morto exigia dos vivos na terra. A mãe e a filha, mudas e taciturnas, acompanharam com suas lagrimas as que o rapaz verteu, abrindo o leito final do seu vizinho,