Saltar para o conteúdo

Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/147

Wikisource, a biblioteca livre
O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
137

Pois bem, satisfaço os desejos do meu nobre amigo e desvelado protetor; aceito com orgulho a responsabilidade que me impõe. Agora uma ultima palavra:

A ninguem dei ainda o direito de acoimar-me de ingrato. A minha história encerra o evangelho da lealdade e da franqueza. O benefício é para mim um penhor sagrado, “letra” que se não resgata, porque escrita no coração.

Ha cerca de vinte anos, o exmo. sr. conselheiro Furtado, por nimia indulgencia, acolheu benigno em seu gabinete um soldado de pele negra, que solicitava ansioso os primeiros lampejos da instrução primaria.

Hoje, muitos colegas desse soldado têm os punhos cingidos de galões e os peitos de comendas.

Havia ele deixado de pouco os grilhões de indébito cativeiro, que sofrera por oito anos, e jurado implacavel odio aos “senhores”.

Ao entrar nesse gabinete consigo levava ignorancia e vontade inabalavel de instruir-se. Seis anos depois, robustecido de austera moral, a ordenança da delegacia de polícia, despia a farda, entrava para uma repartição publica, fazia-se conhecido na imprensa como extrenuo democrata e esmolava, como até hoje para remir os cativos.

Não possuia pergaminhos, porque a inteligencia repele os diplomas, como Deus repele a escravidão.

O ex-soldado hoje, tão honesto como pobre, quaker ou taciturno ebionita, arvorou á porta da sua cabana humilde o estandarte da emancipação e declarou guerra de