Página:O seminarista (1875).djvu/199

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dos devaneios sentimentais se havia mantido em uma esfera ideal e pura, tornou-se material e libidinoso. Os gozos de outrem lhe chamaram a atenção para os sedutores atrativos físicos da sua amante, e lhe atearam nas veias a febre da volúpia. O demônio do ciúme, empunhando o facho infernal, abrasava o sangue do infeliz mancebo no fogo da concupiscência. Volvia e revolvia na lembrança com amarga complacência todos os encantos do corpo de Margarida - a boca úmida e vermelha, ninho voluptuoso de beijos e sorrisos - os seios túrgidos ofegando alterosos em ânsias amorosas - os olhos quebrados nadando em eflúvios de ternura - o bafejo suave e perfumado como as emanações de um rosal - e todos estes misteriosos tesouros, que o pudor recata, e ante os quais a própria fantasia do mancebo se detinha tímida e respeitosa, receando profaná-los, tudo isso se lhe apresentava à imaginação com as mais vivas cores e o abrasava em sede de sensualismo, infligindo-lhe o suplício de Tântalo1. Tudo isso, que havia perdido, era agora pasto franco aos desejos libidinosos, à concupiscência brutal desse Luciano, que o havia ultrajado, ou de algum ente talvez mais desprezível.

Com estas idéias a escaldarem-lhe o cérebro, a