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Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v1.djvu/49

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tremecendo-as as capoeiras, e silvava nas arvores, nos outeiros; e sósinha, por entre a mudez da noite que se approximava, uma ave desconhecida descantava o seu hymno de adeus ao dia que morrêra nas trevas...

E então, meu Luiz, eu senti como que exhalar-se de mim também um hymno de tristeza, languido como um adeus — mas, se de lagrimas, menos amargas. — E esse cantico, esse pensamento tão dóce a incensar-me a mente, era uma idéa de saudade, — e eras tu.

E bem longos trez mezes tem ainda de correr até que esta minha saudade se cale. Ella é doce — de certo — que é bem doce o pensamento de ter-se um amigo ainda que ausente: é bem doce, mas d’uma tristeza despedaçadora que prostra o coração.

«Meus prazeres
Forão só meus amigos — meus amores
Hão de ser neste mundo elles sómente.»

Se eu quizesse algum dia descrever o sentimento — como eu o experimento — da amizade, não acharia de certo dous versos que o traduzissem melhor.

Azevedo.