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Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/155

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dos peninsulanos, desses Cids tão robustos como a Ioriga, desde os pulmões da cervilheira até as grevas onde ressoa o argentino tinir dos acicates que, se fosse possível passar por esse tropeço do vário das línguas, pudéramos dizer que essas duas eram uma só literatura.

Se houve nações onde o brio do campeador se justara com os demãs do trovador e onde o soldado ao depor da armadura, ao desembaraçar do broquel soubesse o dedilhar da lira, afinada por anjos e a ambrosia das musas se lhe inalasse dos lábios, onde o cenáculo dos bardos fosse às vezes a tenda do legionário, foram essas... onde as frontes dos poetas irradiavam sempre sob o elmo das lides. Olhai: - Alonzo de Ercilia escrevia a Araucana às praias de Oceano, na barraca do soldado ao sopé das Cordilheiras, onde a ave-rei dos céus da América, o Condor dos Andes, enverga seu adejo pelas grutas negras de nuvens da serrania Camões, denodado pelejador de Ceuta, o desterrado guerreiro das Índias, cantou os Lusíadas na Índia, em Macau, em toda a parte onde o vento nas palmeiras da Ásia lhe falava das glórias do passado. Corte-Real foi o poeta de Diu e do naufrágio da Sepúlveda. Garcilasso, o neto dos Incas, como disse W. Schlegel, escrevia suas canções de amor sobre os destroços de Cartago, o mausoléu de passadas ruínas, onde Caio Mário, soberbo e Romano, se assentara sublime no seu vagabundo passar de desterrado. Cervantes pelejara em