Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/311

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Mas um dia o marido soube tudo: quis representar de Otelo com ela. Doido

Era alta noite: eu esperava ver passar nas cortinas brancas a sombra do anjo. Quando passei, uma voz chamou-me. Entrei — Ângela com os pés nus, o vestido solto, o cabelo desgrenhado e os olhos ardentes tomou-me pela mão Senti-lhe a mão úmida Era escura a escada que subimos: passei a minha mão molhada pela dela por meus lábios. — Tinha saibo de sangue.

— Sangue, Ângela! De quem é esse sangue?

A Espanhola sacudiu seus longos cabelos negros é riu-se.

Entramos numa sala. Ela foi buscar uma luz, é deixou-me no escuro.

Procurei, tateando, um lugar para assentar-me: toquei numa mesa. Mas ao passar-lhe a mão senti-a banhada de umidade: além senti uma cabeça fria como neve é molhada de um líquido espesso é meio coagulado. Era sangue.

Quando Ângela veio com a luz, eu vi Era horrível. O marido estava degolado.

Era uma estátua de gesso lavada em sangue Sobre o peito do assassinado estava uma criança de bruços. Ela ergueu-a pelos cabelos Estava morta também: o sangue que corria das veias rotas de seu peito se misturava com o do pai!

— Vês, Bertram, esse era o meu presente: agora será, negro embora, um sonho do meu passado. Sou tua é