Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/313

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carruagem pisaram-me ao passar e partiram-me a cabeça de encontro a lájea. Acudiram-me desse palácio. Depois amaram-me: a família era um nobre velho viúvo e uma beleza peregrina de dezoito anos. Não era amor de certo o que eu sentia por ela — não sei o que foi — era uma fatalidade infernal. A pobre inocente amou-me; e eu recebido como o hóspede de Deus sob o teto do velho fidalgo, desonrei-lhe a filha, roubei-a, fugi com ela. E o velho teve de chorar suas cãs manchadas na desonra de sua filha, sem poder vingar-se.

Depois enjoei-me dessa mulher. — A saciedade é um tédio terrível — uma noite que eu jogava com Siegfried — o pirata, depois de perder as últimas jóias dela, vendi-a.

A moça envenenou Siegfried logo na primeira noite, e afogou-se

Eis aí quem eu sou: se quisesse contar-vos longas historias do meu viver, vossas vigílias correriam breves demais...

Um dia — era na Itália — saciado de vinho e mulheres eu ia suicidar-me A noite era escura e eu chegara só na praia. Subi num rochedo: dai minha última voz foi uma blasfêmia, meu último adeus uma maldição... meu último digo mal; porque senti-me erguido nas águas pelo cabelo.

Então na vertigem do afogo o anelo da vida acordou-se em mim. A princípio tinha sido uma cegueira — uma