Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/213

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Condição de uma bárbara, que jura
Não ser minha, apesar dos meus desvelos,
Meu coração encheu tanto de zelos,
Que imaginei na morte de Garcia
Vingar o meu desprezo, e a tirania
Castigar do meu bem: fui desgraçado,
Inda não me arrependo do passado.

Albuquerque lhe diz que exponha a história
De seu furioso amor e que em memória
Traga todo o sucesso; ele, mordendo
Raivoso os beiços e mil ais vertendo,
Não posso, diz, não posso em tudo ou parte
Dizer-te o que padeço; o esforço, a arte
Vos sobra a vós; em mim obra a rudeza,
Que mais desculpa a natural fraqueza.

Amo a bela Indiana, a linda Aurora,
Que não daqui muito distante mora:
Prisioneira em meu braço a vim trazendo
Lá desde o Paraíba, e discorrendo
Que entre os meus Monaxós se renderia,
Só o nome lhe lembra de Garcia.
Neágua, a Mãe, desde o Pori roubada,
Conheceu-me e me informa da chegada
Deste bom Cavalheiro; não sabia
Que o meu curioso ardor se dirigia
A mais árduo projeto; tento a morte,
E em despojo cuidei do braço forte
Por triunfo levar à minha amada
A cabeça do tronco separada.

Assim fala arrogante; o Herói piedoso
Quer dar provas do peito generoso:
Chama a Garcia; informa-se do resto,