Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/214

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E por voz de Neágua é manifesto
O vário giro da amorosa história.
Argasso (diz), da portuguesa glória
Tu não sabes o timbre; a Indiana bela
Não disputa Garcia, e a tua estrela
Não queiras contrastar por modo estranho;
Ele ta cede, eu próprio te acompanho,
E contigo pertendo ver a Aldeia,
Onde ela vive e o teu amor te enleia.

Que vós partais, Senhor, eu não consinto,
Disse Garcia; ao meu valor distinto,
Ao meu zelo católico era injúria
Saber-se que a conter a minha fúria
Necessária se fez vossa presença;
A Argasso desde já perdôo a ofensa,
E quero que conheça aos Portugueses;
Com ele partirei, e as suas vezes
Sustentando ao favor da bela Indiana,
Farei que ele ditoso, e mais humana
Ela, se abrasem no gostoso alento
De um santo, de um perpétuo sacramento.

Fia de mim (ao índio se tornava),
Que a mesma que já viste minha escrava,
Há de ver-me a seus pés por ti rogando;
Nem de ti outro prêmio então demando
Mais que em uso melhor convertas logo
Esse tão louco, como ilustre fogo,
Que alimentas no peito; serás nosso
Amigo e não escravo, e quanto eu posso,
Nobre rival, te digo desde esta hora,
Neágua é tua, é tua a minha Aurora.

Ó tu, Ciro famoso, se pudeste
Eternizar teu nome, quando deste