Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/216

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Este ídolo fatal, que se alimenta
De humano sangue, um monstro representa
Armado sempre em guerra, cobre o peito
Três vezes de aço, e tem o braço feito
Ao furor, aos estragos e à ruína;
Tinto em sangue um punhal a mão fulmina,
E enterrando em um globo a aguda ponta
Pareceu intentar por nova afronta
Cravar o coração de todo o mundo;
Indignou-se, e do seio mais profundo
Suspirou esta vez; e conhecendo

Que do calvo Itamonte o aspecto horrendo
De um pânico terror ao longo ameaço
Não bastava a cortar do Herói o passo;
Que ao fim se dirigia a ilustre empresa
E que em breve há de ver posta em certeza
Toda a idéia do sonho concebido;
De todo agora em cólera acendido
Se empenha a embaraçar o alto projeto
Do magnânimo Chefe; toma o aspecto
De um Frade (quem o crera!), que influíra
Nas primeiras desordens e que vira
Dos nacionais sinceros o destroço:
Este em tratos ilícitos um grosso
Cabedal ajuntara, tendo a idéia
De vender por estanco' o que franqueia
O liberal despego dos paisanos.

Meditando traições, tecendo enganos,
Firmado no caráter o respeito,
Aparecia o indigno; e tendo feito
Já parciais de seu ânimo alguns poucos,
Assim lhes fala: Ó Europeus, que loucos
Às portas esperais vossa ruína!
Credes que esta inação é de vós digna?
Assim vos vejo estar com gesto manso,
Quando a desconcertar vosso descanso